Cristiano Bodart, doutorando em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP) e editor-chefe da “Revista Café com Sociologia”, alerta para que o Dia Internacional das Mulheres não seja o único momento do ano em que paremos para (re)pensar as formas de dominação masculina.

O estudioso defende que é preciso desnaturalizar a posição de inferioridade da mulher na sociedade. Para ele, a oposição camuflada entre masculino e feminino é sutil e transparece em coisas e atividades sexualizadas, como as noções de em cima/embaixo, frente/atrás, seco/úmido, quente/frio.

Segundo Bodart, a divisão entre sexos se manifesta de forma sutil, porém eficiente para reproduzir a dominação masculina objetiva. Um exemplo é a divisão dos lares, nos quais a sala é vista como tipicamente masculina e a cozinha, tipicamente feminina. Isso vale também para as profissões.

A dominação se acentua quando o tema é o ato sexual. Para os que estão em condições masculinas significa “conquista” e dentre as pessoas em condições femininas como “possuída”. Daí surgem expressões como “dar” e “pegar”.

A questão da virilidade, atrelada ao princípio de conservação e do aumento da honra, está associada à prova masculina de potência sexual que se confirma, muitas vezes, com a defloração e com o apetite sexual aflorado. Para as mulheres, o apetite sexual acentuado não é visto como virilidade, mas como um comportamento “pervertido”.

Foi somente a partir dos estudos de Sigmund Freud que a repressão sexual feminina começou a ganhar novos contornos. Freud orientou para as possibilidades de que as neuroses poderiam ser consequência de toda a repressão sexual ocorrida durante a história do ser humano. Esse panorama histórico-social levou a mulher a desconhecer o seu aparelho sexual e a não tocá-lo, comprometendo o autoconhecimento e o autoerotismo. Os reflexos disso são os altos índices de mulheres anorgásmicas.

A sexualidade é considerada ciência desde de 1920, mas desenvolveu-se fortemente a partir da década de 1960, quando Master e Johnson descreveram a resposta sexual humana, na mesma época surgiram os anticoncepcionais hormonais.

Após muitas lutas para corrigir os desvios que a sociedade patriarcal impôs através dos séculos, as mulheres, hoje, representam mais da metade da força no mercado de trabalho e se destacam nas universidades. Paralelamente às conquistas sociais, esforçam-se para conhecer melhor seu aparelho sexual e ter mais autonomia sobre ele.

As mulheres que ainda são herdeiras da formação judaico-cristã precisam compreender melhor o seu corpo, tocá-lo, inclusive por meio da masturbação. Assim podem redescobrir o autoerotismo que é essencial para a construção de relacionamentos saudáveis e felizes. Conhecer e explorar o próprio corpo contribui para a saúde sexual e uma vida sexual muito melhor.

Referências:
A Mulher e sua Sexualidade. Disponível em http://www.ipgo.com.br/capitulo-22-a-mulher-e-sua-sexualidade/

Bodart, Cristiano. Dia Internacional da Mulher: uma pausa para a reflexão da dominação masculina em elementos sutis
http://www.cafecomsociologia.com/2013/03/dia-internacional-das-mulheres-uma.html

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